ATA DA QUADRAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA SEXTA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 30.08.1988.
Aos trinta dias do mês de agosto do ano de
mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Segunda
Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura,
destinada a comemorar os vinte e cinco anos da Universíade de mil novecentos e
sessenta e três. Às dezessete horas e quatorze minutos, constatada a existência
de "quorum", o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos,
convidando os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Artur Zanella, Vice-Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Henrique Halpern, ex-Presidente da
Comissão Executiva da Universíade; Dr. Plínio Baldanza, 1° Vice-Presidente do
Comitê Executivo da Universíade; Jorn. Firmino Sá Brito Cardoso, Diretor da
ARI, Associação Riograndense de Imprensa, representando o Presidente Jornalista
Alberto André; Ver. Frederico Barbosa, proponente da Sessão e, na ocasião,
Secretário "ad hoc". A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra
aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Frederico Barbosa, em nome
das Bancadas do PFL, PL, PDS e PDT, discorreu sobre os motivos que o levaram a
propor a presente homenagem, analisando a importância da Universíade para o
incentivo ao esporte amador e à educação física entre a juventude. O Ver.
Nilton Comin, em nome da Bancada do PMDB, teceu comentários sobre o sentido da
presente Sessão para os apaixonados pelo esporte, relembrando a influência que
exerceu a Universíade quando da sua realização, há vinte e cinco anos atrás. E
o Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, falou sobre a
confraternização entre jovens de várias partes do mundo observada durante a
Universíade lamentando a forma como atualmente é tratado o esporte amador, que
não tem recebido o necessário incentivo e apoio. Após, o Sr. Presidente
concedeu a palavra ao Dr. Henrique Halpern que, como ex-Presidente da Comissão
Executiva da Universíade, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em
continuidade, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade,
convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da
Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito
horas e dez minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária
de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Artur
Zanella e secretariados pelo Ver. Frederico Barbosa, Secretário "ad
hoc". Do que eu, Frederico Barbosa, Secretário "ad hoc",
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será
assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR. PRESIDENTE:
Estamos reunidos para comemorar os 25 anos da Universíade de 1963. Como de
praxe, as Bancadas desta Casa se manifestam e, em primeiro lugar, o Ver.
Frederico Barbosa, autor da proposição, falará em nome das Bancadas do PFL, PL,
PDS e PDT. Com a palavra S. Exa.
O SR. FREDERICO BARBOSA: (Menciona os componentes da Mesa.) Meus prezados amigos que atenderam ao
convite desta Casa para que possamos, num ato absolutamente simples,
absolutamente singelo, relembrar os 25 Anos da chamada Universíade de 63.
Em primeiro lugar, até pela
singeleza, e cunho objetivo e simples que gostaríamos de dar a esta solenidade,
arrolei alguns dados, como, por exemplo, o motivo desta homenagem e a forma que
seria dada para esta homenagem. E gostaria de dizer a todos os Senhores e,
certamente, a maior parte ou todos relembram que esta Casa fez absoluta questão
de saudar os 10 Anos da Universíade e, à época, o ilustre, o meu ex-Líder de
Bancada, meu companheiro de Partido, o Ver.
Reginaldo Pujol solicitou a homenagem dos 10 Anos.
Em 1983, já nesta Legislatura, o meu companheiro de Bancada, hoje, Vice-Presidente da Casa, e presidindo este ato, o Ver. Artur Zanella, através de Processo que tenho em mãos, o Processo nº 869, datado de 25 de maio de 1983, também solicitou uma homenagem comemorando os 20 anos da Universíade.
Este ano, ainda no final do verão e do calor do qual estamos saudosos, depois deste inverno que enfrentamos aqui, em Porto Alegre e no Rio Grande, encontrei a Professora Marli Maria Rech, que veio a esta Casa, mais precisamente em 23 de março do corrente ano, procurar os Vereadores, procurar pessoas vinculadas à área do esporte e, principalmente, ao esporte amador, dizendo, aberta e publicamente, que tinha uma grande vontade, que era ver, novamente, homenagear a Universidade 63, agora no seu quarto de século e que desejava, ela, percorrer esta Cidade e fazer com que alguns órgãos públicos sentissem a necessidade de mostrar o que foi aquele evento a esta juventude que aqui está conosco na Cidade, hoje, no ano de 1988. E, assim, perguntei-lhe se ela redigiria alguma linhas. E quero, em homenagem à Prof.ª Maria Marli Rech, que é, também, a Síndica do Conjunto chamado Vila Olímpica, e que é a responsável pelo Projeto Pró-Memória, da Universíade 63. Eu lembro muito bem que, no dia 25 de março, ela sentou à maquina, no meu gabinete, e deixou redigidas estas linhas que tenho em mãos:
(Lê:)
"Nossa Cidade foi mundialmente conhecida pelos recordes aqui batidos nos
Jogos Mundiais Universitários. Grande movimento a boa recordação podem
certamente contribuir para que mais impulso seja dado ao esporte amador e á
educação física, pois é comprovada sua sempre necessária presença nos
currículos escolares. Marcar os 25 anos da Universíade é valorizar um evento
grandioso realizado uma única vez no País e incentivar que maior apoio seja
dado à formação dos jovens que nos esportes podem apresentar um desenvolvimento
integral da personalidade e do corpo.”
Este foi
um dos parágrafos datilografados pela Professora que aqui está conosco, e que
iniciou todo este trabalho, que passou, também, a titulo da coluna do Jornal
Zero Hora, de 02 de abril, na página 02, com o título "Universíade",
assinado pelo conhecidíssimo jornalista Sérgio da Costa Franco, que diz:
(Lê:) "Senti todo o entusiasmo que aquele evento despertou, através de uma carta que me endereçou a Professora Marli Reck, responsável por um Projeto Pró-Memória da U-63, coincidentemente, Síndica do Conjunto da Vila Olímpica, cujos apartamentos, então em fase de acabamento, foram utilizados para hospedar os atletas visitantes. Na mesma ocasião, o Governo Estadual fez construir, em tempo recorde, o Ginásio da Brigada Militar, na Avenida Ipiranga, para oferecer um espaço às competições. A Professora Marli Rech, entusiasta da educação física, diz-se comprometida “com tentar incentivar um maior apoio dos governos estaduais do País inteiro e dos Municípios, para planejar também atividades para o tempo livre nas comunidades, envolvendo crianças, jovens, adultos e aposentados”. E as comemorações que propõe, para setembro deste ano, no 25º aniversário da Universíade, não seriam mero exercício de nostalgia. “Será para promover – diz ela – uma presente mais comprometido com o desenvolvimento de um povo são de corpo e mente”.
Eu
gostaria de deixar registrado nos Anais da Casa que foi depois deste primeiro
contato que tive com a Professora Marli que requeri esta Sessão, sentindo o
deseja da Professora de que tivéssemos aqui um grupo, como está, que participou
desse evento, trabalhou nele e que deixou um legado absolutamente objetivo e
claro para a população de Porto Alegre. Este é um legado de 25 anos e que é
recordado hoje, que é recordado pela rua, pois ainda se chama o ginásio de
Ginásio da Universíade, pois a Vila Olímpica ainda é aquela que abrigou os
atletas, quando os apartamentos nem prontos estavam ainda. Ou seja, passados 25
anos, ainda nos fazem lembrar que se pode vencer barreiras e que a próxima
Universíade, assim como está sendo divulgado pela imprensa, possa ser realizada
em nosso País. E quem dera que possa! Senhores, Senhoras, prezada Prof.ª Marli,
me parece que a forma da homenagem é muito menos os Vereadores discorrerem
sobre o evento, pois certamente o evento está na mente de todos os que
participaram diretamente do mesmo. E eu vejo aqui muitos destes que, agora, se
notem ainda mais as boas idéias, o excelente trabalho que nos legaram, através
do seu labor, que foi muito grande para a Cidade de Porto Alegre. Nós
poderíamos citar nomes, mas sempre é arriscado citar nomes. E eu arriscaria
dizer que passeis os olhos no processo de cinco anos atrás, que contém a
íntegra dos pronunciamentos e notei que o nosso querido companheiro, Dr.
Henrique Halpern, fez uma série de citações, entre as quais não esqueceu o que
contribuiu o Presidente João Goulart, o Governador Ildo Meneguetti, Carlos
Julian, Nei Brito, Rui Ramos e tantos outros, e que citou, e faço aqui em
homenagem, em memória, o que significou para a Universíade-63 a figura de José
Antônio Aranha, o nosso conhecido Zuza. Leio, então, as palavras do Dr.
Henrique e não sei se ele ainda lembra, mas aqui estão, nos Anais, exatamente o
desejo que temos de que a Sessão de hoje fique nos Anais, dos 25 anos, e aqui
está, nos Anais dos 20 anos da Universíade, e dizia o Dr. Henrique Halpern: “E,
agora, vou citar o nome de uma pessoa que, sem dúvida nenhuma se constitui numa
mola mestra, na mola propulsora da realização da Universíade de 1963, em Porto
Alegre, refiro-me a José Antônio Aranha, o nosso querido "Zuza".
Permitam-me, vou lembrar uma passagem muito importante, para que a Universíade
fosse realmente efetivada e que teve a participação decisiva do Dr. José
Antônio Aranha.
Lembro-me,
perfeitamente, que, aproximadamente uns seis meses antes da Universíade, aqui
vieram os membros da Comissão de Supervisão e Arbitragem da Federação
Internacional de Esportes Universitários para verificarem se Porto Alegre,
realmente, tinha condições de realizar este evento. Vieram fazer uma vistoria e
lembro-me perfeitamente disso, aproximadamente seis meses antes do início.
Estivemos com eles reunidos, e o seu representante era um italiano, lembro-me
até do nome, Scarpiello, o Adonis lembra do Scarpiello, que disse: "há um
problema aqui nesta Cidade". Perguntamos qual seria este problema, e ele
respondeu: "É que, aqui, não vemos um ginásio de grande capacidade".
Na época, realmente, o ginásio de maior capacidade que possuíamos era o Ginásio
do Grêmio Náutico União, que acomodava, aproximadamente, 3.500 a 4.000 pessoas
e dizia, repito, o supervisor técnico da Federação Internacional:
"Precisamos de um ginásio de grande capacidade". Lembro-me,
perfeitamente, quando o Dr. José Antônio Aranha, Presidente do Comitê
Organizador da Universíade, nosso querido Zuza, disse a ele:"Não se;preocupe,
este Ginásio estará pronto quando do início da Universíade" . E,
realmente, José Antônio Aranha empenhou-se junto ao então Governador Ildo
Meneghetti, que, por sua vez, determinou à Secretaria de Obras Publicas, cujo
Secretário era o Dr. João Magalhães, também já falecido, para que o Ginásio
fosse construído. E este ginásio, pasmem, para a época, foi construído em 92
dias. Trabalhava-se 24 horas por dia – lembro-me perfeitamente – com turmas
revezando-se de 8 em 8 horas, graças à pertinácia e o empenho de José Antônio
Aranha, para cumprir a palavra dada ao Dr. Scarpiello, Presidente da Comissão
de Supervisão e Arbitragem da Federação Internacional de Esportes
Universitários.”
Portanto,
faço esta leitura usando, com a permissão do Dr. Henrique Halpern, seu próprio
pronunciamento, nesta tribuna, há 5 anos.
Meus Senhores e minhas
Senhoras, como disse, a idéia da homenagem é a de uma homenagem simples, rápida
e objetiva. Já fui longe demais. Certamente não sou a melhor pessoa para
discorrer sobre tudo aquilo de beleza e de
proveitoso para o nosso povo que foi feito em 1963 e no tempo anterior,
para que essa Universíade pudesse ser realizada com o brilho que foi. Desejo,
acima de tudo, apenas ter o orgulho e a satisfação de ter provocado este que,
antes de uma Sessão Solene, foi um encontro entre amigos. Extremamente
satisfeito fiquei quando vi, há pouco, no Gabinete da Presidência desta Casa,
alguns dos participantes confraternizarem, encontrando-se novamente. A
satisfação é muito grande em falar a todos os Senhores, através da indicação do
meu Líder do PFL, através dos Líderes do PL, do PDS e do PDT. Saio da tribuna
achando que muito melhor será após, quando os Vereadores protocolarmente
fizerem a sua saudação e o Dr. Henrique Halpern, que já falou há 5 anos,
coloque, para todos nós, mais algumas lembranças, quem sabe avivar mais alguns
fatos característicos e marcantes desse brilhante evento. Realmente, esse era o
objetivo. Agradeço aos Srs. pela oportunidade que dão a Câmara de
reencontrá-los, tantos amigos que agora vemos novamente e que agora podemos
abraçar e que, além de nossos amigos, amigos da população de Porto Alegre, pois
certamente realizaram um evento que é exemplo para uma geração.
E eu enfatizo, exemplo para
uma geração, e esperamos que outros briguem, discutam, para que Porto Alegre
possa ter, futuramente, outras competições, outras disputas e outros eventos do
mesmo porte. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador).
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver.
Nilton Comin, pelo
PMDB.
O SR. NILTON COMIN: (Menciona
os componentes da Mesa.) Colegas Vereadores e convidados especiais. O ato em
si, como disse o prezado colega Frederico Barbosa, autor da proposta, tem
significado da qualidade do esporte, ele não tem o significado da quantidade de
pessoas que gostam do esporte, ele tem o significado da qualidade dos homens
que amam o esporte. Nós, porto-alegrenses, e eu representando o meu Partido, o
PMDB, nós só soubemos da grandeza
da Universíade através da imprensa internacional. Foi quando ela, através das
suas agências noticiosas, chegavam às nossas casas e nós ficávamos espantados
em saber que, na Província de São Pedro, no Porto dos Casais, na Cidade de
Porto Alegre, se realiza um evento mundial: os jogos universitários, conhecidos
como Universíades. Quando a imprensa mundial dizia que um grande atleta,
recordista mundial, bateu em Porto Alegre um “record”, ficamos espantados em
saber que, na nossa Cidade, se estava realizando um evento mundial de jogos
amadores, universitários mundiais. Quando o Ver. Frederico Barbosa colocava
aqui a Vila Olímpica, lá, numa parte do Partenon, não sei se é a parte final,
estavam sendo construídos, pela Caixa Econômica, aqueles conjuntos, íamos até
lá para conhecer alguma coisa das delegações estrangeiras que estavam aqui disputando
os jogos universitários. Devo dizer que, quando esta Casa comemora os 25 anos,
Dr. Henrique Alberto, e ao nosso Presidente Dr. Plínio Baldanza, que não foi
apenas uma pequena semente, é uma
árvore com muitas flores esportivas que ficaram na Cidade de Porto Alegre. Foi
o sacrifício de pessoas que não estão mais conosco e de algumas que estão na
Mesa representando o esporte daquela época e outras que estão, aqui, sentadas,
ouvindo os representantes populares.
Eu, como homem de esporte,
entendo que a nossa passagem, tão rápida que se faz aqui na terra, se faz pelo
amor ao esporte. É o amor ao esporte a coisa mais importante no mundo. Até na
política internacional, quando se pretende reatar relações entre blocos
antagônicos, sociedade diferentes, a quem se recorre? Ao esporte. Quando o
Presidente Nixon pretendia reatar relações com a China Comunista, foi através
de partidas de “ping-pong” que os dois Países tiveram uma primeira aproximação.
É o esporte pelo esporte que a gente constrói civilizações inteiras.
Foi feliz o colega Frederico
Barbosa, que, aceitando uma sugestão de uma pessoa ilustre, que inclusive ele
citou dados, para que essa Casa comemorasse o 25º aniversário.
Para finalizar, eu quero
disser as palavras, em nome do
meu Partido, dos amigos que vejo aqui, contemporâneos da minha época, que todo
aquele sacrifício, todas as dificuldades de pessoas que já se foram, está sendo
lembrado, relembrado pelos Anais desta Casa.
O povo de Porto Alegre, o povo
esportivo de Porto Alegre agradece aos homens de esporte como V. Exa., ao nosso
Presidente e a todos aqueles que ajudaram a fazer a Universíade. E que Porto
Alegre possa, em uma outra oportunidade, ter também um exemplo de tal significado. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, que falará em nome da Bancada do PCB.
O SR. LAURO HAGEMANN:
(Menciona os componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, convidados e pessoas que eu
não via há muito tempo e que são da época da Universíade. Em boa hora, o Ver.
Frederico Barbosa lembrou-se de comemorar, através desta Sessão Solene, os 25
anos deste evento de características mundiais que Porto Alegre teve a aventura
de assistir em 1963. Não podemos deixar de recordar que 1963 foi o ano que
antecedeu ao movimento militar de 1964. Nós ainda gozávamos, naquele tempo, de
uma relativa vida democrática que permitiu que aqui viessem delegações de todo
o mundo, delegações de países com os quais o Brasil depois de 1964 iria ter um
processo de interrupção de relações. Isto dá a medida do espetáculo de
confraternização entre os mais variados povos do mundo, representados pela sua
mocidade universitária. Eu lamento apenas que aquele espetáculo a que
assistimos em 1963, e tomara que eu esteja enganado, esteja nos servindo hoje,
25 anos após, apenas para uma memória, muito agradável, muito saudosa, porque
parece que, infelizmente, aquele exemplo não prosseguiu através desses últimos
25 anos, principalmente, em nosso País, porque o esporte amador aqui ainda é
tratado com certa desconsideração, porque não produz lucros, não dá dividendos,
patrocínio para as grandes transmissões
globais. Então, tudo isso nos dá uma certa mágoa, porque aquele episódio de 25
anos atrás devia ter sido detonador de um processo e tivesse uma amplitude
muito maior. E que, hoje, no Brasil, quando se prepara para intervir numa
Olimpíada, ande a buscar atletas para competições elementares e que restringe a cada Olimpíada a sua
participação.
Eu guardo da Universíade dois
momentos particularmente importantes para mim. Nunca revelei isso, porque nunca
participei de uma evocação como esta. A última evocação a que o Ver. Frederico
Barbosa se referia, há cinco anos atrás, e eu lá estava na Câmara, mas não
participei da Sessão. Mas eu fui o locutor oficial do desfile de abertura da
Universíade, no Estádio Olímpico. Não sei por que razão me escolheram, mas eu
acabei lá como personagem da Universíade. Outro detalhe que me liga à
Universíade é que eu dirigia o Departamento de Notícia da incipiente Radio da
Universidade. A Radio da Universidade foi encolhida como a emissora oficial da
Universíade de 63. E nós montamos um sistema de coleta de dados, de
informações, que era transmitido, à noite, numa estação que nós arranjamos em
ondas curtas, em cinco línguas, e que o mundo, pelo menos o mundo que podia
captar esta emissora de ondas curtas, tomava conhecimento, em cinco línguas
diferentes, no final do dia dos resultados das competições que tinham sido
realizadas naquela tarde.
Então, estes dois fatos me
ligam à Universíade de forma indireta, mas que me agrada muito recordar nesta
Sessão, lembrando que o evento marcou Porto Alegre efetivamente. E, hoje, nós
fazemos esta Sessão nostálgica dirigida apenas a um pequeno grupo de pessoas,
que ainda se lembram, que participaram daqueles eventos, como é o caso do Henrique Halpern. Naquele
tampo, o nosso colega, contemporâneo, Ferrugem. Diz ele que até hoje, ainda.
Mas, hoje, ele é o Dr. Henrique Halpern. Para nós, naquele tempo, era o
Ferrugem, contemporâneo estudante, que nós todos conhecíamos, como conhecemos
outros que aqui estão, e que, talvez, por uma questão pessoal, para não
incorrermos no erro de não mencionar pessoas que não deviam ser esquecidas, nós
preferimos não nominar. Mas esta é uma Sessão muito agradável, e a Câmara Municipal
tem tido a oportunidade de relembrar acontecimentos passados nesta Cidade, que
são a própria história de Porto Alegre e constituem a memória da Cidade. Eu não
sei se hoje nós ainda teríamos alguns documentos como, por exemplo, filmes de
televisão, pois, naquele tempo, a televisão estava engatinhando aqui entre nós.
Em 63 a TV Gaúcha havia sido recém inaugurada no final do ano anterior, e o
processo de documentação ainda era muito incipiente. As fitas de eventuais
gravações radiofônicas também não sei que fim levaram; o próprio arquivo da
Radio Universidade também não sei que fim levou, mas nós tínhamos tudo
documentado, inclusive com organogramas. De sorte que, para mim,
particularmente, e acho que para todos que aqui estão, é um grato momento de
recordarmos estas coisas agradáveis, que nós pudemos presenciar. E tomara que
não fiquemos, apenas, evocando na memória, saudosa, estes acontecimentos. Que
possamos, quem sabe, retomar este processo, mesmo 25 anos depois, para que as
universidades que hoje estão aqui em Porto Alegre, na Grande Porto Alegre e no
Rio Grande do Sul, retomem aquele processo de progressão esportiva, que nós
tanto necessitamos, não só como mocidade universitária, mas como País jovem,
que é o Brasil. Muito prazer em tê-los aqui, novamente. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com
a palavra o Sr. Henrique Halpern.
O SR. HENRIQUE HALPERN: (Menciona os componentes da Mesa.) Quando me referi ao Dr. Plínio Baldanza,
disse que ele veio especialmente de Vitória, conforme está escrito aqui. No
entanto, cabe-me salientar que eu tinha absoluta certeza de que ele viria,
porque é necessário que se faça justiça. Se nós trouxemos a Universíade para
Porto Alegre, nós a devemos a Plínio Baldanza. Quando, na época, era o
Superintendente da Confederação Brasileira de Desportos Universitários,
lembro-me bem que foi representando a CBDU num congresso que se realizava em
Torino, na Itália, da Federação Internacional de Desportos Universitários,
pleitear para o Brasil a realização da Universíade e, mais especialmente, para
Porto Alegre. E conseguiu. E, graças a ele, Porto Alegre teve a honra de
realizar a segunda competição no âmbito mundial, somente superada pelas
Olimpíadas. Por isso, Plínio, mais uma vez, acho que Porto Alegre te deve
muito. Eu, hoje, não vim para falar, vim para ouvir. E, realmente, os oradores
que me antecederam, me parece que já disseram tudo sobre o que foi a
Universíade em Porto Alegre. Três vezes estou ocupando esta tribuna e com multa
honra. A primeira vez foi no ano do 73, quando comemoramos o 10º aniversário da
realização da Universíade, e naquela ocasião, me lembro, tivemos oportunidade
de discorrer sobre as dificuldades que estávamos encontrando para a realização
da competição em Porto Alegre, mas que, felizmente, estas dificuldades estavam
sendo sanadas pouco a pouco. Mas não eram somente dificuldades materiais, pois
haviam dificuldades humanas, porque lembro que, quando 6 meses antes da
realização da competição, ainda havia grande incredulidade e pessimismo por
parte da grande maioria das pessoas, em Porto Alegre, e me permitam dizer, até
de boa parte da imprensa. Eles não acreditavam que pudéssemos construir um
ginásio de grande capacidade em tão pouco tempo, estou falando 6 meses antes;
eles não acreditavam que pudéssemos mandar buscar do Japão material de
ginastica para as competições; eles não acreditavam que pudéssemos trazer para
Porto Alegro, da Califórnia, pranchas metálicas que aqui não existiam para a
competição de saltos ornamentais; eles não acreditavam que pudéssemos trazer
para Porto Alegre tabelas da vidro que, pela primeira vez, foram usadas para
basquete; eles não acreditavam que pudéssemos trazer da França um material
altamente especializado para competição de esgrima; eles não acreditavam que
pudéssemos encher a Vila Olímpica, com 1500 canas, 1500 colchões, roupas de
cama, travesseiros, armários, e, no entretanto, aos poucos, os incrédulos e
pessimistas foram verificando que tudo isto estava sendo realizado. Então,
passaram a ser aqueles que mais colaboraram. Passaram a ser aqueles que mais
elogios faziam à Universíade, e fizeram com que todo o povo de Porto Alegre
participasse daquela competição, participasse daquele evento, trabalhasse para
aquele evento. Portanto, é necessário e aqui devo fazer justiça - não era
apenas o Comitê Executivo, não foi apenas direção técnica, não foram apenas os
diretores de departamentos, mas foi toda a população de Porto Alegre que se
irmanou para que aquele evento tivesse o sucesso que obteve. Minha segunda vez
na tribuna desta Câmara foi em 1983, quando dos festejos dos 20º aniversário da
Universíade. Naquela ocasião, nós apenas rememoramos ou lembramos para que
constasse nos Anais desta Casa, para que aquelas pessoas que muito tinham feito
pela Universíade e que, infelizmente, a mão de Deus já os havia levado, eram
pessoas falecidas. E, como muito bem destacou o Ver. Frederico Barbosa, eu
quero dar ênfase ao destaque, ao Dr. José Antônio Aranha, que, infelizmente,
não está mais conosco e tenho certeza de que, se aqui estivesse, estaria
exultante. Hoje, pela terceira vez e com muita honra, ocupo a tribuna desta
Câmara. E vou me ater a ler uma coluna do jornalista Antônio Carlos Porto, que
foi publicada em 1º/08/63, portanto, 30 dias antes da realização da
Universíade. Esta coluna tem por título "Palavra Mágica". Entretanto,
antes de começar a leitura, poderíamos ate ser acoimados de injustos se não
prestássemos uma homenagem à Associação dos Moradores da Vila Olímpica na
pessoa da Senhorita Marli Rech, que, com a colaboração da Federação
Universitária de Esportes, do Governo do Estado, através da Subsecretaria de
Desportos e do Museu Hipólito da Costa e da Prefeitura Municipal, pois se não
fora ela, acredito, possivelmente não estaríamos aqui, hoje, comemorando os
vinte e cinco anos, nem teríamos essa série de atividades que teremos durante
toda essa semana, atividades culturais e esportivas, para relembrar aquele
evento que, como já disse, se constitui na maior competição realizada na
América Latina, até hoje. À Dona Marli, que representa a Associação dos
Moradores da Vila Olímpica, a nossa homenagem.
E, agora, vou-me permitir ler
a coluna de Antônio Carlos Porto, datada de 1º de agosto de 1963. A coluna tem
por título "Palavra Mágica".
"Porto Alegre, a mocinha
que muitos dizem de saias curtas, está se preparando para brilhar com seu
primeiro e fantástico vestido de gala. Vai cumprir seu debut. Está se
preparando para desfilar, pela primeira vez, na estonteante passarela mundial.
A província vai saltar e se ...ar numa nova página de sua história. Porto
Alegre será envolvida nos braços e nos sorrisos mais significativos do mundo:
mocidade UNIVERSÍADE-63 é palavra mágica.
Porto Alegre marcou encontro
com o mundo. Dentro em pouco, o mundo todo estará nas ruas de nossa "muito
leal". O cenário, um bucólico e estandarizado de tudo que é nosso, sofrerá
uma mudança das mais bruscas. Se éramos um palco para uma espécie de um
tranqüilo "Sarau Familiar", quase como um milagre, deveremos nos
capacitar que as luzes mais fantásticas e os personagens mais diversos
transformarão o "sarau de familiar" numa espécie de um encantador
arranjo para uma ópera de Wagner. Neste palco, os músculos, a graça, o arrojo e
a beleza de mais de trinta países cumprirão o maior espetáculo jamais levado a
efeito na América Latina. O mundo dos jovens, ousado e vibrante, os donos do
amanhã, marcaram encontro em Porto Alegre e deste encontro deverão surgir
maravilhosos frutos. Todos - todos, sem
exceção, devem sentir um pouco de responsabilidade paterna ou materna.
UNIVERSÍADE 63 é a palavra mágica.
Porto Alegre, a menina-moça em
tanto desajeitada, vai-se transmudar. Será cercada por um halo de luz difuso,
multicolor são as bandeiras dos mais de trinta países que aqui estarão para
credenciar a Universíade - 63.
A batalha para isto ser conseguido é ingente, às vezes, incompreensões marcam a caminhada; é uma obra para os fortes e os idealistas, onde sempre este abrigo de uns poucos é bombardeado pelo descrédito de muitos. Mas, Porto Alegre, certeza temos, será uma magnífica "rainha do mundo dos jovens". Este trono será condigno. Este altar que está sendo erguido será a vida e não terá holocausto. O incenso da fraternidade, da estima e da compreensão entre os moços de todo o mundo encherá os ares, na mais sugestiva mensagem já transmitida da Capital dos pampas: a mensagem da paz dos fortes e dos idealistas. UNIVERSÍADE - 63 é a palavra mágica.
Acreditamos nesta tarefa, cremos na Universíade - 63, cremos que, na competição da juventude mundial, Porto Alegre será sede das mais... Por tudo. Por todos.
UNIVERSÍADE a maior festa de congraçamento desportivo-universitário do mundo, vai promover Porto Alegre. Do pontilho modesto se mudará para uma espécie de ilha onde aportarão os simbólicos navios da eternidade, trazendo a esperança e a certeza num mundo melhor, mais humano (mas muito mesmo), cristão do que agora.
O povo está sendo chamado à mobilização. Arautos mais diversos já estão fazendo ouvir seus clarins de prata. Em cada casa, cada esquina, em cada rua e em cada um de nós, esta mensagem não pode ser ouvida indiferentemente. Não deve encontrar paredes. Não deve ricochetear na ... dos empedernidos. Deve, isto sim, ganhar os largos campos da generosidade da hospitalidade de nossa gente. Que cada um de nós, indistintamente, dentro das possibilidades de cada um, ajude a segurar uma das fantásticas colunas onde assenta a segurança e o êxito da UNIVERSÍADE - 63".
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: No ensejo de
encerramento desta solenidade, não querendo fazer discurso paralelo, diria que
a evocação daqueles dias dourados para mim é muito grato, porque foi o primeiro
acontecimento esportivo amador que assisti. Lembro-me com que espanto via
aqueles monstros sagrados do esporte mundial, porque, principalmente os países
socialistas e nos Estados Unidos, era o esporte universitário que fazia com que
os acontecimentos esportivos tivessem aquela repercussão mundial. O Lauro
Hagemann, com sua modéstia, disse que foi o locutor do desfile oficial e não
sabia porquê. Não sabia porque, ora esqueceu-se ou talvez não quis tratar que
inaugurou-se, naquela oportunidade, o que o saudoso Arlindo Pasqualini
denominou de vaia olímpica, porque, ao tentar misturar política com aquele
acontecimento esportivo, uma autoridade federal conseguiu inaugurar, no Brasil,
a vaia nos campos esportivos. Naquela época, também, pela primeira vez, Porto
Alegre transformou-se no centro de espionagem internacional. Entidades
americanas tentando a deserção de um
atleta, e os países socialistas tentando evitar, disputa esta que me lembro bem
ganharam os Estados Unidos ao conseguirem a deserção de um atleta cubano, do
basquete, se não me engano.
Tivemos, também, e vejo com
tristeza, nos dias de hoje, que o País, efetivamente, em determinados esportes,
progride, mas o País regride. Em 1950 o Brasil patrocinava uma copa do mundo
com a construção do Maracanã. Hoje, não consegue reformar o estádio do
Maracanã.
Depois daquele
ginásio da Universíade, somente agora se constrói um outro ginásio público
nesta Cidade.
Lembro-me que o
maior baile que esta Cidade já teve na Reitoria, onde as pessoas entravam e
cediam o lugar para as outras poderem participar do Baile da Reitoria. Nem isto
existe mais, pois somente há pouco se conseguiu reformar o Salão de Atos. Uma
obra que foi criticada por alguns alunos, li esses dias, como sendo uma obra
dispensável.
Creio que a força do esporte
faz isso aí. Se não fosse o esporte, não teríamos em Porto Alegre um Cleomar
Pereira Lima. Estaria no Rio. E eu só não concordo e não concordaria com uma
coisa que disse um dos que mais trabalhou naquela efeméride, o Henrique Alfert,
quando diz que talvez não houvesse esta Sessão se não fosse o trabalho da D.
Marli, que nós estamos reconhecendo.
Há uma sequência, que começou
com o Pujol, continuou comigo, hoje é o Frederico. E esperamos que, daqui a
cinco anos, nos trinta anos da Universíade, estejamos aqui, eu e o Frederico, o
Aranha, que é sobrinho do Zuza Aranha, brigando para sermos os autores do
Requerimento da Sessão dos 30 anos da Universíade. Se nós não voltarmos, tenho
certeza de que nós três conseguiríamos dizer o que o Pujol me disse um dia,
quando assumi a Câmara de Vereadores: não deixa de pedir a Sessão Solene da
Universíade, aquele pessoal merece. Então, eu, ao encerrar esta Sessão, quero
dizer que ela é extremamente simples, mas evocativa de uma Cidade, de uma
Capital que não existe mais. E quero dizer que o Presidente da Casa, Ver.
Brochado da Rocha, não está aqui somente por um motivo, porque, ao perder eu a
oportunidade de fazer o Requerimento da Sessão, exigi dele que eu a presidisse,
e somente por isto que o Brochado da Rocha não está aqui, porque foi um pedido
pessoal meu de que gostaria de presidir esta Sessão que me trazem imagens e
lembranças tão importantes. Agradecendo a presença de todos os Senhores,
Henrique Halpern, Plínio Baldanza e jornalista Firmino Sá Britto Cardoso, que
representam aqui todas as pessoas presentes. Agradeço a todos a presença.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h10min.)
* * * * *